Entenda como as crises afetam o comportamento dos investidores
Publicado por Israel Alves em outubro 28, 2020
As crises podem servir como uma grande lição para nossas atitudes no presente. Ao pensarmos em 2008, por exemplo, crise que resultou na diminuição de patrimônio, renda e oferta de empregos, impactando negativamente o mercado de trabalho, podemos extrair alguns ensinamentos.
Há grandes indícios de que as crises afetam significativamente o comportamento dos investidores. Duvida?
Segundo um artigo publicado este ano por Lippi e Rossi, um cenário de crise pode influenciar a tolerância dos investidores ao risco.
Os dados da pesquisa
Os pesquisadores demonstraram que mudanças comportamentais motivadas por uma crise podem levar a ajustes na alocação de ativos, mudanças de portfólios e no até no planejamento financeiro.
A pesquisa obteve dados reais de portfólios de investidores e suas escolhas de 2003 a 2017, incluindo a crise de 2008, fornecidos por uma associação de empresas de gestão de ativos que operam na Itália e incluem informações como gênero, idade, estado civil e composição de portfólio.
Os autores levantam hipóteses em cenários com e sem crise. As hipóteses de interesse levantadas pelos autores são de que, quando comparado com um cenário sem crise, durante uma crise:
a tolerância ao risco diminui mais fortemente conforme a idade aumenta;
a relação entre nível educacional e tolerância ao risco não é significativa;
a relação entre nível de riqueza e apetite por risco permanece positiva.
As escolhas de portfólio, segundo os dados coletados, sofreram oscilações antes e depois da crise, reduzindo drasticamente o número de investidores de alto risco depois de 2008, quando comparado com os anos anteriores. Porém, observa-se que, a partir de 2008, muitos investidores passam a investir na faixa considerada de médio risco.
A pesquisa demonstrou também que, até 2008, investidores com maiores níveis educacionais eram mais tolerantes ao risco, corroborando a literatura sobre o assunto.
A partir de 2009, entretanto, o nível de educação se tornou uma variável com baixo poder explicativo, levando os autores a acreditarem que isto seria um efeito de achatamento provocado pela crise e, consequentemente, confirmando a hipótese de que a relação entre nível educacional e tolerância ao risco não é significativa.
Atualmente, estamos passando por uma crise de escala global. Crise com consequências em vários âmbitos da sociedade, responsável por causar grandes incertezas em termos econômicos.
Uma pesquisa feita por Bu, Hanspal, Liao e Liu (2020) com estudantes universitários em Wuhan, ajuda a sustentar alguns pontos levantados por Lippi e Rossi (2020).
A pesquisa consistiu numa série de questionários iniciados em outubro de 2019 e tinha a intenção de avaliar como crenças em sorte e superstição afetavam a tomada de risco e comportamento de investimento, mas tomou um novo rumo com a chegada do vírus à cidade.
Os autores encontraram em seus dados que pessoas mais expostas ao contexto das consequências da COVID-19 (localizadas em Wuhan durante a pandemia, quando comparadas a outras longe da cidade) eram menos dispostas a assumir investimentos arriscados e apresentaram crenças mais pessimistas em relação à economia, mercado de ações, e seu próprio patrimônio.
Embora se tenham poucos resultados conclusivos sobre o comportamento dos investidores nesse contexto, uma vez que a crise ainda está em curso, Bu e colegas documentam que preferências gerais de risco foram afetadas de forma uniforme pela pandemia.
Isto busca salientar que o contexto macroeconômico tende a influenciar significativamente a tolerância a risco dos investidores, podendo mudar suas alocações de ativos nos portfólios e guiando suas decisões econômicas.
Esse é um tópico em que os aspectos psicológicos se fundem e interagem com as oportunidades financeiras e as condições macroeconômicas, servindo como reflexão para o modo como as decisões financeiras são tomadas.
Fontes e Referências:
P. Isabella – As crises econômicas podem afetar o apetite por risco? 2020.
Lippi, A. and Rossi, S. (2020), “Run for the hills: Italian investors’ risk appetite before and during the financial crisis“, International Journal of Bank Marketing, Vol. 38 No. 5, pp. 1195-1213.
Bu, D., Hanspal, T., Liao, Y., and Liu, Y. (2020), Risk taking during a global crisis: Evidence from Wuhan, Working Paper.
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Categorias: Pesquisas acadêmicas
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