Como os vieses cognitivos podem atrapalhar seus investimentos
Publicado por Israel Alves em outubro 21, 2020
No artigo de hoje, “Como os vieses cognitivos podem atrapalhar seus investimentos”, vamos explicar e oferecer alguns exemplos dos vieses mais conhecidos no mundo dos investimentos.
Vieses cognitivos são as tendências que podem levar a desvios sistemáticos de lógica e a decisões irracionais, tema frequentemente estudado em psicologia e economia comportamental.
Vieses cognitivos são considerados vícios mentais e podem conduzir os investidores a não avaliar as situações de maneira racional, tomando decisões prejudiciais para seus investimentos.
É muito difícil que um investidor, por melhor que seja, não se deixe influenciar pelas emoções em algum momento.
Seja porque naquele dia ele acordou de mau-humor, seja porque seu time favorito perdeu, seja ainda, e até mesmo, porque discutiu com a sua parceira.
Conheça abaixo os vieses cognitivos mais comuns
Ancoragem
O viés da ancoragem (anchoring, em Inglês) faz com que a exposição prévia a uma informação nos leve a considerá-la fortemente na tomada de decisão ou na formulação de estimativas, independente de sua relevância para o que é decidido ou estimado.
Um dos principais motivos para isso é que nossa mente tende a avaliar de forma ineficiente as magnitudes absolutas, precisando sempre de um ponto de referência para basear suas estimativas e julgamentos.
Por incrível que pareça, se perto do momento de investir, uma pessoa é previamente exposta a palavras como “promoção”, “pechincha”, “barato”, “vantagem” e outras similares, mais chances ela tem de avaliar um investimento como vantajoso do que um investidor exposto a palavras como “caro”, “exorbitante”, “puxado”, “alto”, etc.
É muito comum a ancoragem se basear em valores. Por exemplo, um investidor que toma decisões financeiras por impulso, se exposto recentemente à informação de que a ação da companhia X custa R$ 50, tende a achar barata a ação da companhia Y, cotada a R$ 20, ainda que as duas empresas não tenham nenhuma correlação.
Outra tendência comum é o investidor se ancorar no preço de compra de um papel ou no valor da cota de entrada de um fundo de investimento ao tomar a decisão de manter a aplicação ou de se desfazer dela.
O efeito resultante pode ser a manutenção de uma posição perdedora à espera de uma recuperação até o preço original, mesmo que as perspectivas futuras não indiquem tal possibilidade.
Existe também a situação em que a pessoa define mentalmente uma faixa de valores como “justa” com base nos valores de mercado de uma ação durante um dado período.
A partir de então, avalia se as cotações futuras do papel estão caras ou baratas apenas comparando-as com a faixa anterior, o que pode gerar decisões duvidosas de investimento.
A ancoragem se deve principalmente a um mecanismo relacionado à forma como a nossa mente funciona: o priming.
O priming é o efeito decorrente da enorme capacidade associativa da nossa mente, que faz com que palavras, conceitos e números evoquem outros similares, um após o outro, numa reação em cadeia.
Ou seja, uma palavra é mais rapidamente lembrada, e se torna mais disponível na nossa mente, se tiver conexão com outras vistas/ouvidas em um momento recente. É também o processo pelo qual experiências recentes nos predispõe, de forma automática, a adotar determinado comportamento.
O efeito do priming pode ser particularmente contraproducente para os investidores, por exemplo, durante uma queda generalizada do mercado, em que seria possível comprar, por preços abaixo do que realmente valem, ações ou títulos de dívida de empresas com sólidos fundamentos e que, ao menos em tese, recuperariam seu valor com o passar do tempo.
No entanto, é justamente nesse cenário que os comentários veiculados pela mídia e pela internet costumam alimentar o imaginário social com uma narrativa pessimista, predispondo o investidor a adotar um comportamento defensivo e a se afastar do mercado, desperdiçando boas oportunidades de investimento.
Para evitar o viés da Ancoragem, é recomendável que o investidor:
• Preste especial atenção a valores tomados como referência, verificando se têm fundamento sólido ou se são arbitrários, utilizados simplesmente como âncoras;
• Mantenha-se atualizado quanto aos valores tomados como base de comparação, como as taxas de câmbio, inflação e CDI, entre outras, a fim de evitar basear sua decisão em indicadores que não se aplicam ao cenário atual;
• Questione suas premissas, certificando-se de que sejam realmente relevantes para a tomada de decisão e de que não sejam utilizadas apenas para suprir uma possível lacuna de informação; e
• Evite tomar decisões financeiras por impulso e sem informações suficientes, uma vez que, na falta de base racional, sua mente irá apelar para o que estiver mais facilmente à disposição, porém nem sempre a seu favor.
Aversão à perda
A aversão à perda (loss aversion, em Inglês) é um viés que nos faz atribuir maior importância às perdas do que aos ganhos, nos induzindo frequentemente a correr mais riscos no intuito de tentar reparar eventuais prejuízos.
Alguns estudos sugerem que isso se dá porque, do ponto de vista psicológico, a dor da perda é sentida com muito mais intensidade do que o prazer com o ganho.
Essa assimetria na forma como as perdas e ganhos são sentidos nos leva também ao medo de desperdiçar boas oportunidades de investimento, nos deixando expostos a possíveis armadilhas disfarçadas de “oportunidades imperdíveis”.
A Aversão a Perda pode fazer o investidor insistir em investimentos sem perspectiva futura de melhora, seja pelo medo da dor de realizar prejuízo, seja pela recusa em admitir eventuais erros na escolha da aplicação.
Outro efeito potencialmente prejudicial desse viés é liquidar precipitadamente as posições lucrativas e ainda promissoras, por receio de perder o que já foi ganho.
A fim de evitar o viés da Aversão a Perda, é recomendável que o investidor:
• Procure se informar e avaliar até que ponto seu comportamento financeiro se origina realmente de uma escolha racional ou se está orientado pelo medo de perder;
• Reavalie periodicamente seu portfólio. Para isso, imagine que seus investimentos tenham sido transformados em dinheiro e se pergunte em qual deles você investiria novamente, sob as condições atuais.
Dependendo da resposta, pode ser o caso de liquidar alguma posição, mesmo que implique em realizar as perdas, partindo para alternativas mais promissoras, a fim de recuperar os eventuais prejuízos;
• Evite conferir cotações com frequência excessiva, especialmente de investimentos de longo prazo, pois isso aumenta o grau de ansiedade e pode gerar uma falsa necessidade de tomar decisões a cada consulta;
• Estabeleça uma estratégia de investimentos e tente manter-se nela, definindo os limites aceitáveis para prejuízos. Focar no processo, ao invés de se preocupar com o que está acontecendo no momento, diminui a possibilidade de tomar decisões precipitadas nos momentos em que notícias ruins estejam provocando pânico no mercado;
• Antes de reforçar uma posição perdedora (novas compras destinadas a baixar o custo médio de aquisição), avalie se a decisão não surgiu pura e simplesmente de um desejo de recuperar ou de evitar prejuízos; • Diversifique seus investimentos, pois as aplicações lucrativas podem oferecer alívio para o sentimento de perda provocado pelas que derem prejuízo; e
• Finalmente, evite tomar decisões financeiras sob pressão e desconfie de discursos do tipo “se não decidir agora, perderá uma oportunidade única”.
Falácia do Jogador
A falácia do jogador (gambler´s fallacy, em Inglês) – também conhecida como Falácia do Apostador ou Falácia de Monte Carlo – é o viés que se origina de uma falha em compreender a noção de independência estatística e que nos faz “calcular” a probabilidade de um acontecimento com base na quantidade de vezes que ele já ocorreu.
Em um jogo de “cara ou coroa”, por exemplo, esse viés leva uma pessoa a acreditar que o fato de ter ocorrido “cara” muitas vezes seguidas torna maior do que 50% a probabilidade de sair “coroa” no próximo lançamento.
Não é difícil imaginar que os investidores também possam sucumbir a esse viés.
Por exemplo, após uma série de valorizações seguidas de um mesmo papel, algumas pessoas começam a sentir uma ansiedade que as impele a vender suas ações, por terem a sensação de que entrará em cena algum mecanismo de correção capaz de fazê-las cair em breve, sem que haja uma explicação racional para tal queda.
Por outro lado, há investidores que decidem manter em carteira ativos cujo valor vem caindo seguidamente, sem se preocupar em compreender o motivo da desvalorização, simplesmente por acreditarem que algum processo aleatório fará o preço do ativo se desviar na direção oposta, passando a se valorizar.
A fim de evitar a Falácia do Jogador, é recomendável que o investidor:
• Compreenda alguns conceitos básicos de probabilidade; em especial a noção de que, quando se trata de eventos independentes, as chances de ocorrer um resultado específico são exatamente as mesmas das vezes anteriores, não importa qual tenha sido o último resultado;
• Leve a sério o alerta de que ganhos passados não representam garantia de rentabilidade futura e baseie suas decisões de investimento em informações relevantes e de qualidade, provenientes de fontes fidedignas; e
• Acompanhe as notícias sobre o mercado financeiro e as informações disponibilizadas pela área de relações com investidores das companhias, pelos gestores dos fundos de investimento, pelos autorreguladores e pela CVM, a fim de identificar se eventuais altas ou baixas têm fundamento sólido.
Fonte: CVM
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